O Lado B do Reveillon de Copacabana

O Mundo inteiro propaga e canta as belezas e a magia do Réveillon de Copacabana. Eu mesma já havia passado o réveillon de 2007/2008 lá, na época estava com um barrigão de NOVE messes, HL tinha 1 ano e 5 meses e a Zebra estava prestes a completar 13 anos. Completando tinha ainda o Hugo , uma amiga que tinha vindo de Brasília para curtir o verão carioca e o meu velho cão companheiro... Naquele ano ficamos tranquilos, e eu com o barrigão descolei até mesmo um cantinho do banco para sentar... A virada foi mágica, HL se encantou com os ‘fogulos’, e logo após o belo espetáculo a Zebra e nossa amiga foram aproveitar a festa enquanto voltamos tranquilos para casa.

Este ano resolvemos repetir a dose, o namorado da Zebra veio de Brasília e a Lele, minha fiel escudeira, se juntou a tropa... Seguimos rumo à festa acreditando repetir a maravilha de 2007... Já na ida algo me pareceu estranho... A quantidade de pessoas, a pressa era algo infinitamente maior do que em 2007. Algo me dizia: VOLTA, mas eu achava que estava era velha e chata, não que eu não seja, abafa e que o sexto sentido era pura preguiça.

Primeiro susto: a Barata Ribeiro e a Nossa Senhora deveriam estar com o trânsito fechado e na altura da Figueiredo de Magalhães NÃO ESTAVA!!! Vimos inclusive diversos carros particulares circulando, a chuva estava forte e a guarda municipal ao invés de CUMPRIR SEU DEVER ,e orientar o transito, estava ocupada em se proteger da chuva nas marquises, conversar em rodinhas ou mesmo paquerar transeuntes bêbadas. Ali tivemos nosso primeiro grande erro de avaliação, seguir pela Atlântica, achamos que seria o mais seguro, em vez de disputar lugar com carros e ônibus... Lá vimos que a confusão estava ainda maior do que o esperado e não vimos UM SÓ PM, o réveillon que tinha como Tema a sustentabilidade, Tinha na verdade toneladas de lixo, mas ainda seguro. Em poucos minutos estávamos começando a entrar no clima da festa e a aproveitar a noite, niqui fomos ‘engolidos’ por uma onda de gente...

Pegamos as crianças no colo que escorregavam por estarem com a capa de chuva molhada e começamos a buscar uma rota de fuga, éramos empurrados e amassados por todos os lados, as crianças em desespero choravam e gritavam implorando para irem para casa. Os adultos gritavam que estavam com crianças e que tudo que queríamos era passar e sair dali. Usávamos nossos corpos como escudos, para proteger as crianças, e só rezava para que nenhum de nós, principalmente as crianças fossem ao chão. Tinha a certeza que se naquele momento um de nós caísse sairia no mínimo gravemente machucado. Estávamos no meio de um ‘estouro de boiada’, nisto sinto meu cão, velho companheiro escorregar e ser arrastado pela multidão, quando consegui recuperar, o velho cão já estava morto...

Não conseguia mais conter as lágrimas e o desespero, SABIA que tinha que tirar meus filhos do meio da confusão, entretanto, não tínhamos por onde sair, e vi um anjo aparecer na minha frente, na forma de um garoto de seus 20 e poucos anos, que largou seus amigos, sua festa e foi socorrer minha família. Com seu corpo empurrava e abria caminho, HL a esta altura estava no meu colo, em um empurrão mais forte senti o moleque escorregar e prontamente o menino anjo, segurou meu filho e comigo agarrada ao seu braço enfim conseguimos chegar a uma rua perpendicular. As crianças estavam nervosas, eu chorava e seguimos para a Nossa Senhora de Copacabana, onde ouvimos os primeiros fogos estourarem...

 Tentamos mostrar os Fogulos as crianças que não queriam ver, queriam apenas ir para casa, para o abrigo seguro... Confraternizamos-nos ali mesmo no meio da rua, choramos a morte do nosso cão, o mais fiel e companheiro de todos os cães que já passaram pela terra, HL com um belo arranhão próximo ao olho e Nine com a bochecha roxa. E Combinamos que mesmo com a virada trágica, faríamos um dois mil e doce diferente.Nenhum Grande milagre aconteceria, os problemas não desapareceriam, as lutas não seriam menores e muito menos as graves doenças seriam curadas por milagre, mas o Ponto Focal seria outro, como já falei problemas sérios não são escolhas, mas COMO ENCARA-LOS, SIM. E a forma de encarar será outra, contamos um com os outros para fazer isto e, além disto, conto com meus amigos para me puxarem a orelha quando eu não tentar de uma forma nova.

Infelizmente as mentiras a respeito do réveillon de Copacabana continuarão a ser contadas, mas a grande verdade é que a prefeitura NÃO TEVE competência de organizar a festa, e olha que sou fã assumida do Eduardo Paes.Não havia lixeira suficiente e a população não estava nem aí de onde largava seu lixo, o que provocou inúmeros acidentes com pessoas se ferindo nas garrafas jogadas na rua, algumas reportagens falam em 1,7 mil atendimentos, outras em 1,2 mil. O número exato? Não saberemos, mas certamente seria infinitamente menor se a população tivesse cuidado com o próximo. Não havia policiamento na Atlântica, nas cerca de 2 horas que passamos lá, sendo 40 minutos na tentativa de fuga, não vimos UM só policial na área. Segundo a zebra que voltou para a praia com a fiel escudeira e o namorado quando eu, Hugo e as crianças voltamos para casa, por volta de meia noite e meia ela viu alguns policias do Choque na PRINCIPAL avenida da festa. Nós particularmente só vimos policiais, já na Barata Ribeiro, a 3 quadras da praia. Em 2007 havia cerca de 1,2 milhões de pessoas na praia, e não vimos um só tumulto perto de nós, e tinha policiamento em TODA parte. A Guarda municipal não vez o seu trabalho, preferindo se proteger da chuva e aproveitar a festa enquanto recebe salários pagos com o NOSSO DINHEIRO, Isto sem mencionar que o som só era audível em frente aos palcos o que obviamente causava grandes aglomerações de pessoas, em um único ponto.

Sinceramente enquanto a mídia vende a imagem de MAIOR e MELHOR festa do mundo para mim só resta esta imagem:

 E a certeza que: réveillon em Copacabana NUNCA MAIS!!!

PS: um bom olhar sobre a festa tbm se encontra aqui.